SINOPSE DO ENREDO
AS BORBOLETAS ENCANTADAS DA BELA OYÁ
Demburê, Inemburê/Mavanjú/Inemburê
mavamjú/Inemburê Bela Oya/Senhora das
nuvens de chumbo/Senhora do mundo dentro
de mim/Rainha dos raios…
(Caetano Veloso / Gilberto Gil)
A bela e encantadora Oyá, suas faces e representatividades nas cores,
flora e elementos litúrgicos
A agremiação Acadêmicos da Rocinha traz como enredo para o carnaval de
2023, “AS BORBOLETAS ENCANTADAS DA BELA OYÁ.” A orixá será
tratada no desenvolvimento desse enredo com as denominações do
Candomblé e da Umbanda (Oyá e Iansã) de forma a saudar as duas
denominações com base em lendas de matrizes africanas. Ao simbolizar a
agremiação a borboleta se mostra como: encantamento, mudança e
renovação. E na simbologia de Oyá, as várias faces da orixá: a
transformação, o renascimento, o símbolo da mulher, da graça, ligeireza,
pureza da alma e seres mágicos. O enredo tem como base lendas que versam
sobre a orixá no que trata suas transformações e relações com outros orixás,
com o búfalo, sua identidade, personalidade, e, principalmente, com a
borboleta.
Para a bela orixá a morte e seus mistérios não a espantam, mulher aguerrida
conhecida como Senhora dos Eguns, Oyá gueré a unló, é ela, Oyá e Iansã
na fé de seus filhos. Na sua juventude, Iansã viajou por muitos reinos e foi a
paixão de muitos reis, para conviver com todos esses reis, a deusa se valeu
de toda a sua inteligência e astúcia. Apesar de se relacionar com vários reis
o seu maior amor foi Xangô.Em seu misticismo com relação à flora, para banhos e rezas dos filhos de
Oyá, as folhas de alface em todas versões tem como atribuição a cura dos
males espirituais além de ornamentar alguns presentes entregues para a iabá.
A malva branca usada para os ritos de reza e banho tem o poder de proteção
contra as enfermidades. A folha de amora quando utilizada pelos filhos de
Iansã tem um forte poder curativo. A branda fogo, folha de Iansã ou folha
de fogo é usada por seus filhos em banhos e rezas, normalmente, para a cura
de problemas fisiológicos e espirituais. Além de camboatá ou gravatã que
tem frutos exóticos, procurados por pássaros, abelhas e as borboletas de
Iansã. Essa folha é muito utilizada em seus filhos erês (crianças) para cura
de problemas respiratórios, equilíbrio da mente e da alma, e para combater a
irritabilidade causada por espíritos zombeteiros em alguns deles.
As cores e as ferramentas de Iansã são densamente celebradas pelos seus
filhos, como acontece com os filhos de outros orixás. A cor de Iansã usada
na Umbanda, de forma comum, é o amarelo. No candomblé e em alguns
tipos de umbanda “traçada” (que misturam candomblé com umbanda) se
usam, com mais frequência, as cores vermelha, marrom e rosa, além das
cores branca, o ocre, o salmom e o estampado em conformidade com as
qualidades de Oyá. O vigor, as atribuições e os elementos são representados
nas cores e nas qualidades da bela Iansã. Dentre as qualidades cultuadas nos
terreiros de Umbanda e Candomblé em terras brasileiras, a Oyá Petu que é
ligada a Xangô, e confunde-se com ele, é cultuada como a Oyá dos raios. Ela
está sempre paramentada e armada com o adê, pulseiras e braceletes,
geralmente na cor cobre, e, com alfanje, eruexim e oguês de chifre.
Como oferendas as velas e flores amarelas, espadas de Iansã (similares as
espadas de São Jorge, mas com as bordas amarelas) são elementos litúrgicos
nas religiões de matrizes africanas e fazem parte da identidade de Oyá. O
bambuzal no ambiente da flora é o mais marcante na identidade da Orixá,pois suas folhas, bem como, o ambiente é de grande relevância espiritual,
essa planta traz proteção, equilíbrio, força, resiliência e resistência para
tempos tempestuosos espiritualmente, são adquiridos, conquistados e
amenizados, através de tais ritos e oferecimentos feitos com as folhas do
bambu, e o bambuzal nesse contexto tem grande representatividade para
Iansã.
O Reino de Oió e as transformações de Oyá
Oyá também chamada Iansã, provém do nome do rio localizado na Nigéria,
onde seu culto é realizado, atualmente chamado de rio Níger. O Orixá Xangô
conhecido como o rei de Oió, local que vivia com seus súditos e guerreiros,
vivia com suas esposas Obá e Oxum, que sofriam com seu temperamento
agressivo, ao conhecer a bela Oyá, ele a concebeu como sua primeira esposa
mudando a posição de Obá e Oxum na hierarquia do casamento. Reza à lenda
que a transformação de Iansã em borboleta nasce do medo do temperamento
de Xangô, e por conta disso procurou seu amigo Exu que a concedeu o poder
de mutação em borboleta, toda vez que tivesse medo. Ela também
apresentava outra transformação da fauna que era a magia de se transformar
em búfalo, em segredo. Oyá teve esse poder desvendado por Ogum, e por
conta disso virou sua esposa, e ele, ainda assim, ameaçava revelar seu
mistério. Essa revelação aconteceu quando Ogum foi embriagado por suas
outras mulheres e revelou a transformação de Oyá. Isso a levou,
transformada em búfalo, aniquilar as mulheres a chifradas, com as quais
Ogum compartilhou tal segredo.
A guerreira com a força do búfalo, do fogo e ainda assim com doçura da
mulher
Um dos elementos litúrgicos mais representativos de Iansã são os chifres de
búfalo, é comum vermos Oyá dançando com esses chifres à tira colo (Oyá
Ni O To Iwo Efon Gbe – “Oyá é a única que pode agarrar os chifres doBúfalo”). Eles também são usados para “evocar” a grande Deusa dos ventos,
trovões e tempestades. Transformada em búfalo ela deixou os chifres com
seus nove filhos, e os avisou que sempre que precisassem batessem um chifre
contra o outro, e assim, ela surgiria para protege-los. Oyá, mulher astuciosa
que além de dominar alguns fenômenos da natureza, divide o poder do fogo
com Xangô, porque, ao buscar poção mágica com Exu, antes de entregar ao
rei de Oió, fez uso da magia.
Iansã vigorosa guerreira, como toda mulher, também tem em sua
personalidade momentos de doçuras, em outra lenda, rogou por Olorum que
desse fim a sua solidão, e ele a enviou seres mágicos que eram borboletas
encantadas.
Os filhos de Iansã têm a borboleta no fundo dos olhos e a alma pura
Certo dia, Olorum tirou da convivência de Iansã seus seres mágicos
(borboletas), os transformou em seres humanos e os espalhou mundo a fora.
Oyá se derreteu em lágrimas, que em forma de raios cortavam o céu dos
Orixás, ela pediu ajuda a eles para encontra-los. Olorum explicou que para
encontrar esses seres, ela os reconheceria ao ver uma borboleta no fundo dos
seus olhos, e sentiria a pureza da alma deles, para isso seria suficiente que
ela gritasse “Eparrey!”. E aqueles humanos que em seus rostos escorressem
uma lágrima seriam chamados de Filhos de Oyá. Desta forma, a Acadêmicos
da Rocinha que tem como símbolo maior a “borboleta encantada”, se faz
presente e pede passagem a Iansã e sua benção na companhia dos seus seres
mágicos. “Eparrey, Oyá!”
Autores:
Mestre Marcus Paulo e Doutora Cristina da Conceição Silva